Sofres de bullying ? Já passei por isso. O irónico é que pessoas de quem eu
gosto só souberam disso anos depois. Sofri durante 2 anos e meio, e a primeira
vez que contei a alguém tinham passado 4 anos e meio. Eu tive vergonha de
contar. Tive vergonha de estar a passar por isto. Tive vergonha de mim. De não
ter força para pedir ajuda. Tinha nojo, nojo de mim. Vivia atormentada que elas
aparecessem à minha frente, todos os dias. Fingia estar doente, mas a verdade é
que a única coisa que tinha era medo. Medo delas, mais nada. Eram 3 raparigas. Senti vergonha, também por serem
raparigas. Embora mais velhas sempre me tinham ensinado que as raparigas eram mais
fracas. E eu acreditei. E porquê ? Porque eu era rapariga e ERA FRACA. Tinha
vergonha acima de tudo por causa disso, porque não era capaz de me defender. Era
apenas uma criança a primeira vez que aconteceu. Tinha apenas 9 anos, e andava
no 4º ano, nem fazia ideia que aquilo se chamava bullying.
Acredita que passado quase 7 anos, se fechar os olhos e
pensar um pouco, volto a sentir-me a criança que era nesses dias. Custa ver a
fraqueza. A minha fraqueza. A minha inocência. Não era suposto eu aí já ter crescido,
não era suposto saber ser forte, pois não ? Se era, eu não o fui.
Era encostada contra a parede,
o meu pescoço era apertado. Lembro-me das lágrimas caírem na minha cara e elas
se rirem e dizerem : 'chora, continua a chorar, não passas de lixo, ninguém
quer saber das tuas lágrimas. Pareces um bebé a chorar, ninguém quer saber oh
burra. Não vales nada, porque é que alguém se ia preocupar com algo tão nojento
e feio como tu ? Sim, algo, porque nem podes ser considerada uma pessoa', e
diziam isto nos dias melhores, noutros estúpida, gorda, ignorante, impossível de ser
amada, irrelevante para os outros, sem valor para ninguém, eram palavras usadas
por elas. Palavras algumas que apenas mais tarde aprendi o seu significado. E elas ecoavam na minha cabeça como gritos, durante horas, e horas e horas... até finalmente adormecer. Para voltar a acordar e reviver tudo outra vez.
Doía.
Ainda hoje passado tanto tempo, dói. A pergunta que mais faço é 'porquê ?' ?
Porque é que elas o faziam ? Que gozo é que lhes dava destruírem a felicidade,
a vida de uma simples criança ? A vida delas era assim tão má para terem que
descarregar em alguém tão indefeso ? Talvez fosse esse o problema. Era fraca.
Nunca fui capaz de as denunciar, e muito menos de lhes fazer frente. Era
demasiado controlada pelo medo.
Lembro-me de chorar. Chorar muito, muito mesmo.
Mas acabava por limpar as lágrimas porque tinha nojo de mim. Tinha vergonha de
ser assim. Como eu me senti ? Sentia-me... Inútil. Horrível. Sentia que ninguém
gostava de mim. Que não era boa o suficiente para ninguém. Tinha a certeza que
ninguém quereria saber de mim. Sentia-me... Nada. Sentia que não era nada.
Senti até vontade de morrer. Hoje vejo que sentir isso talvez tivesse sido
estúpido. Se fosse agora provavelmente não chegava a esse ponto. Mas eu cheguei
a sentir que se morresse não iria fazer falta. Ninguém iria notar.
Por isso,
por todo o sofrimento que eu passava, dou os parabéns a essas 3 raparigas,
conseguiram o que queriam. Fazer uma simples criança sofrer.
Ainda hoje não sei
bem como acabou. Não entendo agora como nunca ninguém descobriu. Lembro-me que
muitas vezes chegava a casa com marcas no corpo, e dizia sempre que caí, ou
bati em algum lado. E acreditavam, e entendo. Era uma criança, e sempre fui uma
criança desajeitada, era normal cair todos os dias.
Repito, ainda hoje não sei como
acabou. Pergunto-me se eu não tivesse a sorte de elas terem mudado de escola
quando eu fui para a delas, o que teria acontecido depois.
Sei que esses tempos foram um
completo pesadelo. Que perdia a vontade de fazer o que quer que fosse. Quase
não comia, e emagreci bastante. Tanto emagreci que hoje ainda se nota. Não
queria brincar, nem sair de casa. Não sei se tinha mais medo de as encontrar,
ou de contar o que me faziam. Pois o que viria a seguir ainda seria pior.
Hoje,
tenho 15 anos, e apenas nos últimos dois meses umas pessoas souberam que sofri
de bullying. Nenhuma sabe pormenores.
Uma sabe um, outra sabe outro, ninguém sabe muito. E com este texto é a
primeira vez que digo tudo, e que tudo ficará a ser dito.
Ao escrever isto, não
espero, nem quero que tenham pena. Quero que talvez alguém que esteja a sofrer
leia isto, e saiba que não está sozinho. Quero tentar fazer com que alguém que sofra o que eu sofri, não cometa os erros que eu cometi. Pedir ajuda não é vergonha. E pessoas
que conheçam alguém que dêem os sinais que eu dei, desta vez estejam mais
atentas, e ponham a hipótese de não ser a fase normal da idade.
Se sofres de bullying... Não desistas, continua a lutar ! Lembra-te que tens muito mais força que qualquer pessoa que te queira fazer mal. Lembra-te de sorrir. Usa as tuas melhores armas : o teu sorriso, a tua força e a tua felicidade. Isso consegue deitar abaixo qualquer pessoa que te queira mal. Tens pessoas que te amam. Se desistires de ti, estarás a tirar-lhe um pedaço delas, não te esqueças. Acredita em ti. Tu és forte, e tu consegues. Não deixes que alguém que não sabe nada de ti ou da tua vida mudem a tua felicidade e te façam sentir que não és bom o suficiente. Acima de tudo, tens que entender que por muito que penses que sim, não estás sozinho. Sorri, sê forte, e sê feliz.
As palavras
magoam, mudam vidas, mudam pessoas. Pensem melhor antes de falar, não sabem o
que uma simples palavra pode fazer.
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